sábado, 21 de janeiro de 2017

Orar em línguas, dançar e saltar acrobaticamente ou entrar em uma casa pelo teto...

Espírito Santo de Deus


É um pouco difícil para mim entender a "oração em línguas" como hoje é praticada. Confesso que já foi mais difícil ainda, e cheguei a ser um questionador de tal prática, e ter longos debates com minha esposa, que a defende como um dom de Deus para nós.

Mas não vou falar do que me levou a questionar ou das dificuldades que tenho em vivenciar. Vou falar do caminho que estou percorrendo para não ser um homem de coração duro, que não aceita algo por falta de compreensão ou por soberba, arrogância, auto-suficiência, ou qualquer outro sentimento que não condiz com o "Vem e Segue-Me" que me foi dirigido por Cristo através dos irmãos.

Nisso tem me ajudado bastante a escuta atenta da palavra de Deus. Às vezes os versículos da Bíblia são aqueles mais improváveis, que parecem não ter nenhum vínculo com o assunto, mas se revelam de grande auxílio quando consigo meditar sob a Luz de seus ensinamentos.

Ainda não encontrei na Bíblia algo que me esclarecesse diretamente a "oração em línguas", mas já tive várias pistas de como abrir meu coração para me permitir viver tal experiência, se for uma necessidade para minha vida pela Graça de Deus.

Uma passagem, ainda no antigo testamento, fala do Rei Davi dançando em meio ao povo e à frente da Arca da Aliança, oferecendo a Deus toda a sua alegria por ela estar retornando para Jerusalém (2Sm 6:13). Não consigo deixar de pensar que isso também é "orar em línguas", ou seja, uma manifestação efusiva daquele que, repleto de alegria e cheio do Espírito Santo, não consegue exprimir todo o louvor que deseja dedicar a Deus de outra forma, a não ser dançando, pulando acrobaticamente, girando, sorrindo e amando. Imagino que nenhum gesto de Davi, naquele momento, fosse premeditado, calculado ou medido.

Tudo isso era espontaneamente lindo e maravilhoso. Mas eu dessa forma agora, lendo sobre isso nas Sagradas Escrituras, sabendo de um contexto muito maior que o simples e maravilhoso contexto daquele momento. Algo novo aconteceu, e foi realizado por um rei. Algo que deve ter causado nas outras pessoas espanto e admiração, alegria e vontade de fazer igual, mas também, em outras pessoas, repulsa e desprezo, vergonha e inveja.

O rei poderia exigir que todos dançassem com ele naquele momento, ou baixar um decreto depois exigindo que isso fosse feito sempre que se quisesse louvar a Deus, mas não seria natural. Ele ainda poderia ter ensinado isso a outras pessoas, e espalhado pelo reino para todos os que quisessem, e talvez tivesse conseguido estabelecer um reino que dança, e talvez muitos de nós dançaríamos mais hoje diante do Senhor, assim como cantamos, de forma natural; mas mesmo assim não seria algo para todos.

Nem todo mundo teria a necessidade ou o desejo de dançar, e não por isso deixaria de ter o seu jeito próprio de se aproximar mais de Deus, louvando-o com todo ardor do coração; incomparável com a dança de Davi, pois não dá para se comparar ou medir o amor.

Já no Novo Testamento, vemos algumas pessoas baixando um paralítico pelo teto de uma casa, para que ele pudesse chegar até Jesus (Mc 2,1-12). Novamente não posso deixar de pensar que isso também é "orar em línguas", ou seja, encontrar um caminho novo - certamente arriscado e um tanto radical - para chegar até Deus, mas aceito com alegria por Seu coração acolhedor.

Aqueles homens foram movidos por um impulso diante da impossibilidade, e não foram repreendidos por Jesus. Ao contrário disso, o paralitico recebeu atenção imediata e teve uma cura muito maior que a parte física; foi perdoado e curado também em Espírito.

É possível imaginar a reação das pessoas criticando ou desejando fazer o mesmo; admirando, se surpreendendo ou querendo impedir que aquilo acontecesse.

Certamente uma ação como essa não é para todos também. As pessoas que estavam aos pés de Jesus não pensariam em algo assim. Poderia haver ali alguém que nem mesmo estivesse vendo Jesus devido à multidão, mas sua fé era tão grande que bastava ouvir a voz do Senhor ou saber e sentir sua presença para também obter essa cura maior. Não dá também para se comparar os meios e as necessidades, pois é impossível se medir a pobreza de uma alma que precisa estar na presença de Deus, que anseia por Seu amparo e justiça, amor e misericórdia.

Não há uma fórmula mágica para se chegar a Deus. Existem sim caminhos que outras pessoas já percorreram ou percorrem e que podemos também trilhar, mas nada é garantido, a não ser a nossa disposição em amar mais, e os braços abertos de Deus sempre prontos a nos receber. Eu já tive a alegria de sentir a presença mais intensa do Espírito Santo, algumas vezes na missa, mas outras vezes também em lugares improváveis, como dentro de um ônibus olhando para o céu azul através da janela, por exemplo. Em todas elas meu coração se encheu de uma alegria indescritível, e todo o meu ser se modificou por um instante. Algumas vezes chorei, outras sorri, em todas elas louvei e agradeci.

No inicio já tentei reviver alguns desses momentos, fazendo as mesmas coisas de antes, mas nunca é igual. Desisti de agir desse jeito, afinal poderia estar dando mais valor a esse sentimento maravilhoso do que à fé que tenho que Jesus Cristo está comigo o tempo todo, que sou templo do Espírito Santo e que Sou de Deus acima de qualquer coisa.

Sinto que tudo depende muito mais da manifestação do amor e da vontade de Deus do que de meus próprios esforços, e também que preciso mudar muitas coisas em mim para ser o homem que Deus moldou ainda no ventre de minha mãe.

A oração sincera é algo maravilhoso em minha vida, às vezes silenciosa, às vezes efusiva, às vezes suplicante... Na verdade não tenho regras para conversar com Deus, e só sei que é fundamental para mim continuar orando. Talvez um dia essa oração possa ser em "línguas" também.

André da Mônica
ENS Piabetá

Apoio: Padre Antônio Augusto Oliveira - Paróquia São Sebastião de Piabetá

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