"Falar do diálogo está se tornando moda. Não seria porque muitos sentem a sua necessidade mas não conseguem ver as suas implicações práticas?
As vezes chamamos de diálogo qualquer conversa com o outro. Alguém desabafa . . . logo falamos de diálogo. Desabafar é muito bom e pode ser o caminho necessário para um frutuoso diálogo, mas desabafo não é diálogo. Uma vez, recusei conversar com um jovem que veio para "brigar" comigo. Ele falou depois que eu não quis dialogar. Na realidade, não quis brigar com ele ...
Um clima emocional leva à agressão verbal, que provoca uma reação de defesa. Então ficamos na frente de um "duelo" e não de um "diálogo". Querer "abrir o jogo", dizer ao outro certas verdades, abrir-lhe os olhos "para seu bem", pode algumas vezes ser proveitoso, mas agindo assim não estou dialogando. Dar bons conselhos, dar explicações, exortar o outro a modificar tudo isso pode ajudar o outro, mas não é diálogo.
Comecei a entender o "diálogo" e a sua força para mudar o relacionamento de uma pessoa com outra a partir da meditação da passagem do Evangelho, em que Jesus, aos 12 anos, conversa com os doutores da Lei: "Maria e José encontraram Jesus no templo, sentado, em meu meio aos doutores, ouvindo-os e interrogando-os. E todos os que O ouviam ficavam extasiados com a sua inteligência e as suas respostas" (Lc. 2,46-47).
Para um diálogo franco e verdadeiro, é preciso, em primeiro lugar, encontrar-se e sentar-se. A posição "de pé" indica uma certa pressa de terminar ou uma vontade de agredir. A pressa ou a agressão são obstáculos ao diálogo.
O diálogo é um encontro entre pessoas dispostas a ouvir uma a outra com atenção e respeito. O diálogo só é possível entre pessoas que se consideram iguais como pessoas humanas. Não há diálogo franco de cima para baixo, ou de baixo para cima. Para escutar o que o outro tem a me dizer, é preciso confiar nele, é absolutamente necessário crer nele. Para ouvir o outro, é preciso amar muito, ter humildade, reconhecer os meus limites. Geralmente, em vez de ouvir o outro, preparamos o que queremos dizer enquanto o outro fala. Não o escutamos de verdade: não o ouvimos! Porque não o ouvimos, somos incapazes de um verdadeiro diálogo.
Não é fácil dizer as coisas como nós sentimos. Então é difícil para o outro entender bem o nosso ponto de vista. Para um verdadeiro diálogo, é necessário também interrogar o outro para descobrir o que ele nos quer transmitir, sem nunca julgá-lo ou fazer um processo de intenção. É importante respeitar a sensibilidade do outro, não o forçando a se revelar mais do que deseja.
Enfim, para dialogar, tenho de falar. Se é preciso interrogar o outro para conhecer sua opinião não é menos necessário que eu diga com clareza e sinceridade o que eu penso, ressaltando os pontos de vista comuns e aceitando com realismo e respeito os pontos divergentes. Se temos um desejo sincero de diálogo, vamos respeitar a opinião do outro, mesmo que ela não bata com a nossa e que não cheguemos a um acordo. É preciso contar com o tempo e ser disponível para mudar de ideia, se precisar.
Não podemos dialogar verdadeiramente se encararmos o outro como "instrumento" ou como "adversário". Num verdadeiro diálogo, não há vencedor nem vencido, mas somente mais compreensão e mais amor.
Irmão Pedro, r.s.v.
Conselheiro Espiritual das Equipes 4 e 5 de Marilia"
(Fonte: Carta Mensal das Equipes de Nossa Senhora - ENS-CM-1981-7)
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