...Um garotinho outrora franzino e tristonho, hoje alegre porque amado e com perspectivas felizes na vida. Davi foi adotado por Marlene e Derik, da Equipe 35 do Rio de Janeiro (Ilha do Governador), que tem como padroeira Nossa Senhora da Anunciação... Não podemos deixar de ver uma correlação entre o sim de Maria, aceitando ser Mãe de Deus e assim mudando a história do mundo, e o sim de Marlene e Derik, que mudou a vida do pequeno Davi. Também eles fizeram uma opção absurda aos olhos dos homens: escolheram a criança mais franzinha, mais doentia - Davi era asmático e apesar de já ter um ano, tinha o peso de um bebê... A pedido nosso, Daisy entrevistou Marlene e Derik.
C.M. - Soubemos que vocês adotaram uma criança. Vocês têm outros filhos?
Marlene - Sim, o Derik Júnior, agora com quase vinte anos. Na época da adoção ele era um adolescente de 15 anos.
C.M. - Como foram levados a adotar uma criança?
Derik - A resolução veio após um dever de sentar-se. Depois do nascimento do Júnior, tivemos uma menina, que viveu apenas 48 horas. Durante muitos anos vivemos na tristeza de a termos perdido. E Marlene não podia mais engravidar. Ainda não pertencíamos às Equipes, e o meu relacionamento com Deus não era dos melhores...
Às vezes a idéia da adoção surgia, mas era rejeitada: não era possível substituir a filha perdida, e nosso filho também não estava preparado para aceitar alguém.
Entramos então para as Equipes. E foi num dever de sentar-se a três, numa conversa muito séria, que decidimos. E Júnior também mostrou-se contente com a idéia.
Iniciamos então a procura, pelos caminhos normais e legais: a Funabem, o Juizado de Menores. Levamos alguns meses nesse trabalho. A maioria dos casais, ao adotarem uma criança, querem que ela seja preferentemente de olhos azuis e cabelos loiros... Nós não tínhamos preferência: nessa altura, estávamos à procura de alguém que necessitasse de nós, queríamos resolver o problema de uma criança, e não o nosso!
Um dia nos apresentaram (no Instituto Romão Duarte - a antiga "Casa dos Expostos", que em épocas passadas tinha a famosa "roda"), duas crianças: o Marcos e o José Newton. Com um ano de idade, pesando 6 quilos, José talvez nem sobrevivesse. Tomei-o no colo, senti sua necessidade de amor, sua necessidade de alguém que o ajudasse... Senti isso tudo. Mas o Júnior ficou relutante: "Logo este?!" Saímos, os três. Ninguém falava. Fomos almoçar. De repente, cada um de nós disse o que pensava: "Aquela criança não tem chance nenhuma de sobreviver." "Ninguém vai adotá-la!" "Precisamos ter confiança em Deus, não queremos saber se vai haver problemas!" Rezamos e decidimos: adoção plena: nosso nome, nossos bens. Voltamos à creche.
C.M. - Vocês incentivariam outros casais à adoção?
Derik - É o que fazemos freqüentemente. Mas a pessoa tem que saber que é uma decisão para a vida toda. Um casal não pode pensar em adotar para preencher um vazio, nem para substituir um filho. A criança é que precisa ser adotada, ela é que precisa de amor, de proteção ...
C.M.- Como é o Davi hoje?
Derik - Está agora com 4 anos e recuperou-se totalmente. Temos lhe dado muito amor. Alguns familiares que eram contra agora mudaram de idéia: Davi é muito querido. Está no Jardim I, está sendo alfabetizado, é muito inteligente, alegra a nossa casa. É um dom de Deus!
Marlene - E já está em nossos planos adotar mais um ...
Técnicos e estudiosos atestam que as instituições de amparo ao menor abandonado serão sempre ineficazes, porque não podem substituir o calor de um lar. E, no entanto, a adoção tem sido vista mais como uma solução para o problema de casais sem filhos do que uma solução para uma criança sem lar. Espera-se que sejam mais numerosos casais como Marlene e Derik, movidos por generosidade mais que por interesses próprios.
(Fonte: Carta Mensal das Equipes de Nossa Senhora - ENS-CM-1984-7)
ENS Piabetá - Vivência diária dos Pontos Concretos de Esforço - PCE 11/04/2017
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