Todos estamos conscientes de que vivemos uma profunda mudança cultural. Mais uma de tantas crises que, como o indivíduo, vive a Humanidade. Crises de crescimento.
Imersas na transformação, pessoas, famílias e todas as instituições sentem-se sacudidas desde o mais profundo de si mesmas, vítimas de movimentos pendulares que nos desconcertam.
Neste contexto, talvez nenhuma dor se possa assemelhar à dos pais que vêem seus filhos submergidos nestas flutuações, manipulados por "forças" contra as quais não sabem como lutar, filhos que vêm e se vão sem saber para onde, que não correspondem ao que deles se esperava, que menosprezam até os próprios pais ...
Geração de pais "programados" na culpa, que se sentem responsáveis, afogados sob o peso de sentimentos de angústia por ''não terem feito o suficiente", por "não terem sabido como agir" . . .
Casais que, além de padecer nas suas próprias pessoas os estremecimentos da mudança, se vêem impotentes diante dos filhos e, com freqüência, por causa deles, divididos entre si. Descarregam um no outro as responsabilidades e, inconscientemente, as culpas.
Quem não conhece casais nestas situações? E diante disso, que pensar, que fazer?
Uma crise não é o fim. É o começo de algo novo que todos temos de tentar viver. Ainda que seja nas trevas, tateando, temos de fazê-lo, para que os nossos filhos, pouco a pouco, vislumbrem essa luz, esse "algo novo", e depois o vivam.
Algumas reflexões podem nos ajudar:
1. Não percam de vista que cada vida é uma história, mais ou menos longa, cujos protagonistas são essencialmente a pessoa e Deus, e na qual todos deixam uma marca. Dêem tempo aos seus filhos e não deixem de crer neles. Não se podem demitir, não podem dizer: não há nada a fazer. Ah! - e não deixem de crer em Deus, no Seu poder!
2. Conservem firmemente a sua conjugalidade. Dediquem-lhe todos os esforços que ela requer, os melhores. Que vocês se amem um ao outro, que se conservem solidamente unidos, inquebrantavelmente fiéis um ao outro em cada momento da vida com seus altos e baixos, é sem dúvida o argumento mais forte: sem palavras, para seus filhos.
3. Conservem sempre abertas para eles as portas dos seus corações e das suas casas. Percebam eles que, se vocês se preocupam com eles, é pela sua felicidade, e não porque não viram realizadas as esperanças que neles depositavam.
4. Criem nas suas casas uma forte e exigente dinâmica de relação inter-pessoal, de por-em-comum. É impensável, hoje, procurar soluções no passado. Há que exigir, e muito, mas a partir da profundidade da relação inter-pessoal sincera. Todas as soluções passam por aqui.
5. Reflitam juntos sobre o que se passa, mas sempre numa perspectiva de alegria e de esperança, contra todas as aparências. O medo do futuro é um dos ingredientes mais intensos no sossobrar dos nossos jovens. Todo educador deve ser transmissor de esperança. E transmissor de Cristo, a nossa Esperança!
6. Ajam sempre com coerência. Com a coerência de uma profunda comunhão de amor conjugal e com aquela outra que deve haver entre o que exigimos e o que fazemos. Coerentes, também, com os valores de uma nova cultura, na fidelidade ao Evangelho.
7. Rezem em nome dos seus filhos, mais do que pelos seus filhos. Que seja patente em vocês quererem somente a glória de Deus e a felicidade deles.
Dirão vocês que é fácil dar conselhos. E eu lhes direi que não. Hoje, menos ainda. Mas há um desafio à nossa frente. E necessitamos estar todos unidos: pouco pode cada um sozinho. Temos de compartilhar as nossas cruzes, mas também as nossas esperanças e reflexões. E, se são muitas as cruzes, não são menos as esperanças. Por isso me atrevi a dizer-lhes estas coisas.
Pe. Manuel Iceta
(Da Carta espanhola)
(Fonte: Carta Mensal das Equipes de Nossa Senhora - ENS-CM-1983-7)
ENS Piabetá - Vivência diária dos Pontos Concretos de Esforço - PCE 28/03/2017
Que assim seja, em nome do Senhor. Amém.
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