(Do Boletim de Jundiai)
Numa reunião da Equipe do Setor de que participei há pouco, ficou claro, na partilha feita sobre a oração conjugal e familiar, que todos tinham dificuldades nesse aspecto. Essa dificuldade fez-me reconhecer que o problema não é a oração, mas o modo como rezamos. No livreto "O espírito e as grandes linhas do. movimento", enfatiza-se o grande valor da oração familiar e conjugal, definindo-a como autêntico "culto doméstico".
Ora, o que é culto? Culto é a celebração da memória, do que se tem para recordar e tornar presente. No caso do "culto doméstico"- e é isto que deve ser a oração familiar e conjugal - devemos celebrar as maravilhas que Deus opera a cada instante em nossa vida. De fato, a dificuldade em rezar que todos nós temos é resultado da oração extremamente intelectual que queremos fazer. Na oração usamos apenas nossa mente e não todo nosso corpo e toda nossa vida. Desse modo nossa oração normalmente se torna um intrincado e cansativo processo mental de encadear conceitos abstratos, um após outro. Por exemplo: "Deus onipotente e misericordioso". Mas nunca dizemos porque Deus é onipotente e misericordioso, além do fato de que muitas vezes nem sequer nos damos conta do profundo significado do que dizemos.
Por que não seguimos o exemplo de Moisés, que, após a triunfal travessia do Mar Vermelho, entoou seu grandioso canto de alegria e vitória (Ex. 15, 1-18)? Ou o exemplo de Maria Santíssima, cuja "alma engrandece o Senhor" por inúmeros motivos que ela vai enumerando a seguir (Lc. 1, 46-55)?
Em nossa vida, hoje, o que poderíamos agradecer a Deus? Alguém já se lembrou de celebrar o dom da vida? A cada ano fazem-se festas de aniversário, mas quem se preocupa em reunir os familiares e amigos também para agradecer a Deus a vida que dEle recebeu e que Sua misericórdia ainda mantém? Nesse sentido, há a 3.a parte do livro de Iris Boff Serbena, "Do coração da mãe, para o coração dos filhos" (Editora Vozes), em que ela dá algumas excelentes sugestões para tais celebrações familiares.
Quando se tem mágoa pela traição de um amigo, quem tem a coragem de abrir seu coração diante de Deus e clamar como o salmista? ( cf. SI. 5; 7; 9; 9-B; 34 e outros) . Os salmos, rezados como a oração oficial e universal da Igreja, dão-nos lições concretas de como rezar, isto é, de como nos colocarmos diante de Deus, abrir-Lhe o coração, celebrar nosso "culto doméstico".
Quantos, nas E.N.S., têm feito do Natal e da Páscoa (para citar apenas as festas litúrgicas mais importantes do ano cristão), no seio da família, uma celebração ao mesmo tempo religiosa, familiar e festiva? Os judeus celebravam, a cada ano (e o fazem ainda hoje), a Páscoa do Senhor, sua passagem salvadora e libertadora pelo meio do povo, e quando seus filhos jovens perguntavam qual o significado daquilo tudo, os pais respondiam narrando as maravilhas que Deus operara entre eles (Ex. lt, 25-27).
É esta a oração que as Sagradas Escrituras, fundamento de toda nossa fé e caminhada cristãs, nos ensinam, inspiradas pelo amor do Espírito Santo. É esta a oração que devemos elevar a Deus. É este o culto doméstico que devemos celebrar em nossas famílias: a lembrança das maravilhas de Deus em nossa vida, a cada dia, a cada instante, hoje e agora.
Dom Mauro de Souza Fernandes, OSB
(Fonte: Carta Mensal das Equipes de Nossa Senhora - ENS-CM-1983-2)
ENS Piabetá - Vivência diária dos Pontos Concretos de Esforço - PCE 18/03/2017
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