quinta-feira, 16 de março de 2017

SENHOR, DA-ME VONTADE DE REZAR

É inegável que um seno obstáculo se apresenta para aquele que assume consigo mesmo o compromisso de uma vida de oração autêntica. Depois de algum tempo, a vida de afogadilho, tão habitual no mundo em que vivemos, retoma o primeiro lugar.

Para uma vida de oração autêntica, não se trata de rezar ou de "rezar melhor", porque "é preciso rezar" ou porque estaríamos resvalando para o ativismo. Trata-se de ser cristão. Levar uma vida cristã é olhar muito para Cristo e procurar viver como Ele. 

Por que fazemos nós uma distinção naquilo que queremos imitar no Cristo? Olhamos para Ele quando ama. Por que não o olhamos quando reza? Em nome do que posso eu decidir segui-lo nisto e não naquilo? No amor fraterno e não na oração? 

Para termos vontade de rezar, é este o argumento mais forte: olhar para Jesus. Houve um homem que viveu numa extraordinária união com Deus. Constante, perfeita. Tão estreita que olhar para este homem é ver o próprio Deus. Ao olhar este Filho tão unido ao Pai, percebemos que Jesus tinha necessidade de um tempo especial de oração solitária. Lendo São Lucas, encontraremos coisas como estas: "As multidões acorriam, mas Ele se retirava aos lugares solitários para orar" (5, 15-16). "Jesus subiu à montanha para rezar e passou toda a noite em oração" (6,12). 

Dizem alguns: "Para que um tempo de oração solitária? Basta viver unido a Deus e fazer aquilo que devo fazer. Retirar-se para orar .é evadir-se: é preferível servir". Eis um argumento sutil que ouvimos com certa freqüência.

Olhemos novamente para Jesus. Ele vivia constantemente em união com o Pai e no entanto precisava arrancar-se ao anúncio do Reino para, sozinho, rezar. Jesus não se afasta da multidão ou de seus apóstolos para esquecê-los, numa procura de intimidade maior com o Pai. Ele sempre se afasta para melhor servir. Quando precisarmos de razões fortes para rezar, tomemos este caminho mais curto: Jesus precisava rezar. Se deixarmos de meditar sobre a oração de Jesus, corremos o risco de construir uma vida de oração nada "cristã", ou seja, à margem das razões de orar do próprio Cristo. Torna-se então infalivelmente a oração de nossas pequenas estórias pessoais, de nossos intermináveis exames de consciência, de nossos pedidos mesquinhos e, é forçoso constatar, nunca atendidos. É fácil, nessas condições, perder a vontade de rezar! Mas basta que eu olhe para Jesus e o horizonte se modifica. 

É até mesmo uma transformação total. Quando quiseres orar, diz-me Ele, pede isto: "Venha a nós o vosso Reino". Entro então em cheio na própria oração de Jesus. Ele vivia o que ensinava. Ele unificou perfeitamente o amor do Pai e o amor aos seus irmãos. Não como duas coisas justapostas, mas como dois amores alimentados um pelo outro. Quando vai sozinho à procura do Pai, é para pensar na sua missão. Para levar a bom termo uma vida tão completamente unificada, é evidente que a oração desempenhou importante papel.

É nessa oração, eficaz, poderosa, que eu devo ingressar. E não na oração das teorias e das psicologias. Na oração "cristã", a própria oração de Jesus. Eu sei que devo anunciar, continuar a manifestar, pela minha vida, o amor de Jesus. É preciso que eu venha a adquirir outra convicção ainda: devo também anunciar, continuar, manifestar por minha oração a sua oração. 

(Do livro de André Sêve "Trinta Minutos para Deus")

Continuação da adaptação para a Carta Mensal da tradução do livro de André Sêve, último trabalho do Dr. Moncau.

(Fonte: Carta Mensal das Equipes de Nossa Senhora - ENS-CM-1982-8) 

ENS Piabetá - Vivência diária dos Pontos Concretos de Esforço - PCE 16/03/2017

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