segunda-feira, 13 de março de 2017

PARA QUE SERVE UMA MONTANHA, ou A PROPÓSITO DO RETIRO ANUAL

Qual seria o alpinista que não desatasse às gargalhadas ouvindo alguém comentar "Para que serve uma montanha e por que é que se quer por força chegar ao topo dela?!" Sem dúvida alguma responderia: "É porque é sensacional, mas realmente definir para o que serve, é bem difícil ... " 

E um casal fazer um retiro, para que serve? Fazer retiros é uma antiga tradição na Igreja. Os retiros para casais são muito recentes. Com o desenvolvimento da espiritualidade conjugal, tomou-se mais consciência do valor desses poucos dias em que o casal se consagra mais ao Senhor. São os testemunhos e a experiência de tantos casais, de idades e culturas tão diversas, que incitam as ENS a afirmar e a reafirmar com a maior convicção que fazer regularmente - pelo menos uma vez por ano - um retiro espiritual, se possível em casal, é muito importante.

Fazer um retiro é, antes de mais nada, partir - "retirar-se": é afastar-nos da nossa vida quotidiana para poder reassumi-la melhor depois. É aceitar uma ruptura. Para alguns, esta ruptura é relativamente fácil, pois sentem que lhes é indispensável. Partir tornou-se uma coisa normal. Psicologicamente e materialmente, os problemas encontram a sua solução. Estes casais regozijam-se com a perspectiva de gozar estes dias de calma, de repouso e de recolhimento, e aspiram profundamente por eles. Sabem por experiência própria que vão regressar calmos e como que renovados. "Com tudo o que vai por aí, dizia um deles, perde-se o norte tão depressa! O retiro ajuda a reencontrá-lo. Há sempre problemas, mas são encarados por outro prisma."

Para esses, no entanto, uma pergunta: "Vocês, que vão para o retiro felizes porque sabem que o retiro é um dom do Senhor, a quantos casais não membros das ENS já propuseram que os acompanhassem?"

Para outros, quantos obstáculos a vencer! Encontrar datas e lugares convenientes, encontrar soluções satisfatórias para cada um dos filhos, encontrar maneira de resolver os problemas profissionais, aceitar que aquele trabalho urgente sofra uma demora ... Para estes, uma pergunta também: "Vocês têm a simplicidade de pedir a ajuda material de sua equipe? e o seu estímulo amigo e exigente?"

Para outros, as dificuldades surgem a nível do próprio casal. Ele bem que gostaria de fazer um retiro, mas ela está reticente, ou vice-versa. Ele aceita um retiro de 48 horas, ela gostaria de fazer um mais longo ... E nada se decide, o tempo vai passando e nem um nem outro tomam uma decisão.

Ir para um retiro é querer encontrar Alguém - Deus - que se dá a nós. E aceitar ouvir, receber, contemplar. É aceitar de antemão ser encontrado, esclarecido, convertido. . . "Eu sei os sentimentos com que parto, mas quais serão eles quando voltar?" Portanto, ir para um retiro é um risco que se corre. E também um ato de fé. Porque a fé transforma o nosso olhar. Ela ensina-nos, graças a esses tempos privilegiados de oração, a olhar para os outros através do olhar de Deus. Em primeiro lugar, este marido, esta mulher que Deus ama e que confia ao meu amor, humano e frágil; e estas crianças, cada uma delas, causa de tantas alegrias e algumas vezes, de sofrimento... E, por último, eu próprio a quem não amo tanto como Deus me ama, simplesmente. 

E todos os outros, que estão no nosso caminho, os que vemos e talvez esses outros que, até agora, não queríamos ver. Se o nosso olhar muda, é necessário oue a nossa vida também mude, a nossa maneira de viver, o modo de assumirmos as nossas responsabilidades, a escolha dos compromissos aos quais Deus nos chama. 

É difícil fazer um retiro em que nos comprometamos com uma certa profundidade sem longos momentos de recolhimento, de silêncio e de oração. Mas isto se aprende. O pregador ou os animadores do retiro podem ajudar, guiar; mas é o Senhor que age e que transforma ... 

Recentemente dizia-nos um sacerdote: "Sempre tenho vontade de tirar duas fotos: uma no princípio do retiro - todos aparecem cansados, tensos, às vezes até na defensiva. Outra foto no fim - eis que aparecem os sorrisos, a fraternidade que uniu os retirantes. para além do silêncio; marido e mulher parecem mais apaixonados . . . Para alguns é um 'começar de novo'." 

Um retiro deve ser preparado material e espiritualmente. Quanto mais curto, tanto mais é necessária esta preparação antes de começar. Como em qualquer coisa importante, o fator "tempo" não pode ser subestimado. Alguns comentam: "É na hora de acabar o retiro que se tem a impressão de que ele vai começar. E uma pena." A preparação faz-se na oração, na fidelidade às obrigações quotidianas e em união com aqueles, conhecidos ou desconhecidos, com os quais vamos formar uma "comunidade cristã" durante alguns dias. 

São cada vez mais numerosos os que optam por retiros mais longos - 3, 5 e 8 dias. Existem, em certas Regiões, vários tipos de retiro. Noutras, é preciso começar da estaca zero e os casais das ENS são então chamados a prestar um importante serviço à Igreja: o de organizar retiros para casais, abertos a outros casais que desejem participar. Dos 365 dias do ano, quais são os que reservamos para o nosso retiro? Querer é. . . prever! 

Paul e Marie-Jeanne Vercruysse


(Fonte: Carta Mensal das Equipes de Nossa Senhora - ENS-CM-1982-6)

ENS Piabetá - Vivência diária dos Pontos Concretos de Esforço - PCE 13/03/2017

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