quarta-feira, 1 de março de 2017

"SENHOR, ENSINA-NOS A ORAR"

É das primeiras coisas que os mais velhos se propõem a ensinar às crianças. No entanto, bem poucos de nós aprenderam a rezar. Para muita gente, a oração é ocupação para horas vagas e aflitas, mania de gente carola ou talvez uma obrigação, para agradar a Deus. A civilização ocidental ficou neurótica com o barulho de suas máquinas e as teorias econômicas modernas obrigam o homem a trabalhar cada vez mais. Trabalhar sem parar, para faturar muito e adquirir mais, aumentando assim suas preocupações, temendo os ladrões, o fogo e as traças. Falar em oração para um tal homem é inútil. 

Um dos discípulos um dia pediu a Jesus: "Senhor, ensina-nos a orar". E Jesus disse: Quando vocês orarem, não sejam como os hipócritas, que gostam de rezar empertigados nas sinagogas e nas esquinas, a fim de serem vistos por todos. Vocês, quando orarem, entrem no seu quarto, fechem a porta e orem a seu Pai que está presente na solidão; e seu Pai lhes dará a recompensa. E quando orarem, não fiquem repetindo muitas palavras, como os pagãos que pensam ser ouvidos por causa de falarem muito. Não se pareçam com eles, porque seu Pai conhece as coisas de que vocês precisam antes que as peçam. Assim, vocês devem orar: Pai Nosso que estais no Céu ... Cristo compôs a oração do Pai Nosso, referindo-se a um Deus que é Pai. Ter um pai é fator de felicidade, de confiança, de segurança, de respeitosa e serena dependência. A criança segura na mão do pai e vai confiante, sabendo que ele não lhe dará nem escorpiões nem serpentes, mas somente coisas boas. A criança tem certeza que, se seu brinquedo se quebrar, o pai o consertará ou lhe dará um outro novo. É uma riqueza ter pai! Cristo usou o pronome no plural - Pai Nosso - o que universaliza a paternidade de Deus. Se ele é nosso Pai, somos forçosamente irmãos. P. E. Charbonneau observa "o malogrado esforço do homem tentando construir uma pseudo-fraternidade e esquecendo-se que nunca haverá uma fraternidade se não houver uma paternidade comum". Cristo referiu-se também ao "pão nosso de cada dia", mostrando que o pão deve ser partilhado e que importa o pão de hoje, não o de amanhã, nem o de depois de amanhã, porque isto implicaria em preocupações, em falta de segurança quanto ao futuro e estes sentimentos representam uma falta de confiança em Deus e são nocivos à saúde mental do homem. Ainda no Pai Nosso, Cristo enfatizou a importância do perdão, condicionando o perdão de Deus à nossa capacidade de perdoar aos que nos têm ofendido. O perdão nos liberta dos grilhões do ódio. E nosso coração fica cheio de Paz. Perdoar é questão de inteligência! O Pai Nosso é uma oração concisa, sem figuras literárias, sem palavras rebuscadas, onde tudo tem sentido, nomes e pronomes, até a ordem das invocações. Tudo no lugar certo, jeito certo, medida certa. 

Muita gente pensa que temos obrigação de rezar. Mas a liberdade que Deus ousou conceder ao homem exclui qualquer imposição. A oração é antes de tudo uma forma de homenagear a Deus, mas é também uma maneira de nutrir, de revitalizar nossa mente e, por extensão, nosso corpo, geralmente cansado. É tão importante saber rezar que o nosso fundador, o Padre Caffarel, eximiu-se da direção das Equipes de Nossa Senhora para se dedicar a uma Casa de Oração, perto de Paris, onde se aprende a rezar. Aqui no Brasil, o jesuíta americano Pe. Haroldo J. Rahm, dirige, na Vila Brandina, em Campinas, os Cursos de Oração e relaxamento psicosomático e os Encontros com o Espírito Santo. Ensinamentos que nos fazem vislumbrar uma nova vida: "O homem se torna novo, pleno do Espírito", (II Cor. V-7). 

O Dr. Alexis Carrel, fisiopatologista francês, Prêmio Nobel de Medicina pelo sucesso em suturar vasos sangüíneos e Medalha Nordhoff Jung por pesquisar sobre o câncer, disse que a oração é uma força tão real quanto a da gravidade terrestre.

A melhor técnica de meditação nos chega do Oriente: começamos tornando nossa respiração lenta e ritmada. O homem pode passar vários dias sem beber, mais dias ainda sem comer, mas não aguenta além de alguns minutos sem respirar. O oxigênio revigora as células, relaxa os músculos e baixa a freqüência cerebral. Em estado de vigília, nosso cérebro trabalha emitindo ondas beta, mas, em estado de repouso, como na hora que antecede ao sono, nosso cérebro baixa a freqüência para alfa, entre os 7 e 14 c.p.s. Estas ondas são específicas do estado de Paz, são as ondas da intuição, aquele privilegiado sexto sentido referido por Charles Richet, que nos permite saber sem que ninguém nos conte. 

A oração pode ter três tempos. Nos dois primeiros, nós nos esvaziamos, parando de fabricar pensamentos, e nos purificamos: nenhum rancor, nenhum temor. E finalmente sintonizamos nossa mente com Deus, pondo-nos à Sua escuta. Devemos rezar com a mente, a imaginação, o coração, não com o intelecto, nem com a razão. A imaginação é mais ousada que o raciocínio. Enquanto este depende do consciente, aquela penetra no inconsciente, que é nove vezes mais esperto que o "Ego". O inconsciente consegue coisas incríveis, por mais remotas e ousadas que sejam. Foi Cristo que nos garantiu: "Peçam e receberão, busquem e acharão, batam e lhes será aberto". "Tudo quanto com fé pedirem em oração, receberão". (Mt. 21, 22) 

Talvez devido a uma formação religiosa deficiente, costumamos rezar "nas horas do aperto", para pedir alguma coisa. Devemos pedir. Deus está disponível. Quer nos ajudar. Mas, uma vez adultos, impõe-se que nossa fé também se torne adulta. Precisamos aprender a pedir. Um agricultor reza pedindo chuva para sua colheita e seu vizinho reza pedindo sol para não atrapalhar sua construção. Como Deus atenderia estes pedidos? Na oração adulta, o homem não impõe condições, mas procura força para enfrentar tempos de temporal ou de seca. O povo costuma dizer: ''quando a vida te der um limão, faça uma limonada". É isto que a oração nos permite: descobrir a receita das limonadas. 

Quando aprendemos a rezar e fazemos disto um hábito, mudamos nossa vida. Assim como o homem precisa de alimentos, de luz solar e de ar puro, precisa também de oração. Quem não aprendeu a rezar ainda não aprendeu a viver. 

Dirce Bastos Pereira da Silva

(Fonte: Carta Mensal das Equipes de Nossa Senhora - ENS-CM-1982-2)

ENS Piabetá - Vivência diária dos Pontos Concretos de Esforço - PCE 01/03/2017

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